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Lembranças de um recreacionista (III): entrevista ao Jornal do Balão

Le ballon rouge

 

“O espaço era um verdadeiro quintal. Sim, havia um pé de goiaba, um tanque de areia, terra e grama, um pé de jabuticaba, uma mesa enorme ao fundo, um grande pneu de trator deitado, pequenos pneus sobrando aqui e ali. Tinha escorregador e uma daquelas estruturas metálicas onde se pode subir etc. Não se tratava de organizar as crianças e de lhes propor uma atividade. Elas já estavam em ação, num processo auto-organizado. Difícil perceber e entender isso, pois aprendemos equivocadamente a perceber o brincar espontâneo e não dirigido como algo desorganizado”.

Essa a atmosfera do recreio, no Balão Vermelho, nos anos 70.  O texto acima é o trecho de uma entrevista que dei ao Jornal do Balão (Escola Balão Vermelho, Belo Horizonte, junho de 2011). O pessoal do Balão deu um título muito carinhoso: “Lembranças de um professor inesquecível”. Como não ficar lisonjeado?

A série de postagens intituladas Lembranças de um recreacionista mostra aspetos desse projeto, voltado a uma utilização criativa dos espaços e tempos do recreio. Um projeto no qual eu tive a oportunidade de participar e que foi minha iniciação como professor de arte. Conto um pouco do que aprendi ali com as diretoras Ieda, Bete e Leninha, com outras professoras e, principalmente, com as crianças.

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O recreio e a culpabilização do movimento

Num artigo intitulado “Recreio e educação” (Folha de São Paulo, 18.10.2011), Rosely Saião comentou o castigo sofrido por uma aluna, por descer as escadas correndo. A menina, de dez anos, foi obrigada a escrever 500 vezes a frase “Não devo correr”, além de ter ficado seis dias sem recreio. A psicóloga e ensaísta faz uma análise do recreio, que é por natureza dado à movimentação intensa das crianças, mostrando em seguida que a punição não é de modo algum educativa. E mais do que isso: revela o fracasso da missão pedagógica.

O que seria um “bom recreio”? Rosely responde: “digo que se um velho ou um bebê for colocado no meio do espaço e sobreviver sem escoriações é porque as crianças fazem um bom intervalo”.  A autora observa que “a criança tem energia e precisa gastá-la”. Contudo, o senso comum diz que, para isso, elas precisam “correr, gritar, pular”.  Rosely mostra que não é bem assim, pois a criança acaba por ficar mais agitada. Haveria outros modos de liberar essa energia, mas “perdemos a mão na hora de ensinar”. Não seria pela proibição, ou pela mera verbalização que se conseguiria educar o movimento da criança. Para a ensaísta, deveríamos ser mais precisos. E que deveríamos ter, na hora do recreio, “mais educadores por perto, não apenas inspetores”. E conclui dizendo que “as escolas precisam reconhecer que a hora do recreio é uma excelente oportunidade educativa e, como tal, exige planejamento, objetivos, estratégias e um ambiente organizado e minuciosamente preparado para o que pode acontecer”.