“O espaço era um verdadeiro quintal. Sim, havia um pé de goiaba, um tanque de areia, terra e grama, um pé de jabuticaba, uma mesa enorme ao fundo, um grande pneu de trator deitado, pequenos pneus sobrando aqui e ali. Tinha escorregador e uma daquelas estruturas metálicas onde se pode subir etc. Não se tratava de organizar as crianças e de lhes propor uma atividade. Elas já estavam em ação, num processo auto-organizado. Difícil perceber e entender isso, pois aprendemos equivocadamente a perceber o brincar espontâneo e não dirigido como algo desorganizado”.
Essa a atmosfera do recreio, no Balão Vermelho, nos anos 70. O texto acima é o trecho de uma entrevista que dei ao Jornal do Balão (Escola Balão Vermelho, Belo Horizonte, junho de 2011). O pessoal do Balão deu um título muito carinhoso: “Lembranças de um professor inesquecível”. Como não ficar lisonjeado?
A série de postagens intituladas Lembranças de um recreacionista mostra aspetos desse projeto, voltado a uma utilização criativa dos espaços e tempos do recreio. Um projeto no qual eu tive a oportunidade de participar e que foi minha iniciação como professor de arte. Conto um pouco do que aprendi ali com as diretoras Ieda, Bete e Leninha, com outras professoras e, principalmente, com as crianças.
“Voltando no tempo, no começo, lá no quintal, estavam as potências. É para lá que eu me volto nos momentos de crise. Algo por descobrir ou inventar, ainda e sempre. E isso sobrevive no meu corpo-memória: aqueles primeiros dias em que brinquei com as crianças no Balão Vermelho.”
Um projeto traz a marca do acontecimento quando ele é maior do que nossa própria existência individual. Deixo, então, vocês com a entrevista, que pode ser acessada no seguinte link: Jornal do Balão, junho de 2011.
A imagem é do filme Le ballon rouge, de 1956, dirigido por Albert Lamorisse, contando a história de um menino que encontra por acaso um balão vermelho a caminho da escola. O nome da Escola Balão Vermelho, surgida nos anos 70 em Belo Horizonte, foi uma homenagem ao belíssimo filme.
No Youtube você pode ver o filme, dividido em quatro partes. E assim, captar esse sentimento de infância no mundo.
Outras postagens sobre o tema –
No blog Cultura do Brincar:
– A função do recreio na educação infantil: lembranças de um recreacionista (I)
– Lembranças de um recreacionista (II)
– O recreio e a culpabilização do movimento
No blog do Quintarola:
– Corujice pura… (sobre a experiência do Centro Lúdico de Interação e Cultura)
Uma resposta em “Lembranças de um recreacionista (III): entrevista ao Jornal do Balão”
Ah, Garrocho, acabei de ler sua entrevista no jornal do Balão. Lembrei muito das suas aulas que eu chamava de aula de aventura perigosa. : )