A ausência de contato físico continua a se impor entre pais e filhos. E assim vão surgindo seres menos afetivos, menos livres e sem desejo pelo movimento. Ou, então, desorientados nos seus espaços de ação. Tenho observado que muitos pais, ao adquirirem a cadeira para transportar bebês em veículos, aproveitam para levá-los também de um lado a outro nos passeios. Vi um bebê sendo levado assim, flutuando no espaço, olhando aquele imenso céu azul. Lembrei-me, logo, do planeta Wall-e, o desenho da Pixar-Disney, do robozinho que volta à estação espacial, onde estão todos os humanos, e os vê entregues a uma letargia e total falta de movimento.
A cadeirinha é uma exigência da lei, a fim de dar segurança aos bebês e crianças pequenas. Além disso, é prática. Porém, não podemos esquecer que o mais importante é o toque. Diferente disso é quando levamos a criança coladinha no corpo, com um suporte, numa longa caminhada ou passeio. Mas deixá-la, de início, sem contato corporal, é um grande equívoco.
A criança quando é levada no colo encontra calor humano. E não só: aos poucos, vai se adaptando ao jogo motor dos pais, ao movimento real da vida. Assim, dependurando-se, descobrindo-se no mundo, o bebê vai crescendo e desenvolvendo-se. Em todos os mamíferos, as forças da sobrevivência dependem do toque. Não vamos nos esquecer disso: somos macacos!
Inventaram há muitos anos atrás uma cadeira móvel, com rodinhas, que parecia um disco-voador. Acreditava-se que as crianças aprenderiam a andar e a se locomover mais rapidamente. Mas isso foi um produto desenhado pela indústria que visava outra coisa: o conforto dos pais e a não interferência do bebê nos espaços. Sem falar nos cercadinhos.
Numa entrevista à Folha de São Paulo, Luiz Roberto Rigolin, com pós-doutorado em Filosofia e dedicado à formação de atletas, fala de sua preocupação com o desenvolvimento de nossas crianças. Ele diz que estamos criando “analfabetos motores”:
“A prática de exercícios resulta do desenvolvimento motor, processo que começa desde que a criança nasce. Ela precisa experimentar todas as possibilidades de movimento para desenvolver habilidades físicas. Hoje tem menos oportunidade de fazer isso. Estamos criando uma geração de analfabetos motores.”
Luiz Roberto fala da necessidade de oferecer às crianças oportunidades de brincar livremente. E isso começa, sem dúvida, dentro de casa: deixar que as crianças possam descer e subir dos sofás etc. Isso não significa que não se deve olhar as crianças e tomar todos os cuidados. Mas não podemos cercear os meios de exploração sensível do mundo.
Vale a pena ler a entrevista que, apesar de curta, é esclarecedora. O movimento nos espaços, com os objetos e em contato com outros corpos, é disso que uma criança necessita para crescer. Aliás, os adultos bem que poderiam reaprender isso!
Referências –
– Estamos criando analfabetos motores, afirma educador físico. Folha de São Paulo, 22.09.2012.
– A criança e o contato corporal. Por Luiz C. Garrocho