O menino, por volta de uns cinco anos, estava inquieto na sala de espera do consultório. A mãe demorava demais. Entabulei com ele uma conversa em torno da espada que empunhava, meio desanimado.
Ele me disse que aquela era a espada do mal, do seriado Guerra nas Estrelas.
Entrei, então, nesse mundo. No poder que aquela espada poderia ter. O menino se entusiasmou e passou a falar do que a espada poderia fazer. Fazia gestos com a arma. Narrava a saga. Eu seguia alimentando esse jogo ficcional. Não havia mais tédio.
Em determinado momento, quando viu que eu estava por demais dentro daquela ficção – e ele também – o menino faz um corte abrupto:
– Mas esta espada foi comprada.
– Mesmo?
– Sim, comprou na loja.
Então, o menino desconstrói o jogo da ficção. Pois era isso mesmo que ele queria mostrar: quando o movimento ficcional vai muito longe é necessário operar pelo reverso. Mostrar, pela desconstrução, que foi feita uma construção. Que nós podemos entrar e sair dos nossos jogos.
Necessário dizer mais?