Categorias
Arte-Educação Educação infância

Na aula de jogos corporais, o menino que não podia andar

Imagem: Discovery Brasil: http://discoverybrasil.uol.com.br/
Imagem: Discovery Brasil: http://discoverybrasil.uol.com.br/

 

Na Escola Balão Vermelho, nos anos de 1980, iniciava uma nova turma com crianças entre 05 e 06 anos de idade. As aulas eram de jogos simbólicos e corporais. Foi então que surgiu, na porta do salão, um menino lindo e sorridente, com muletas e uma babá que o acompanhava na adaptação aos ambientes e atividades. E ela me contou que ele tinha paralisia em ambas as pernas. Enfim, ele não andava. Fiquei atônito: o que fazer?

Lá dentro da sala os outros meninos e meninas corriam, se jogavam uns nos outros, encontravam seus interesses, nessa busca de entrar contato com o espaço, de produzir espaço. E agora?

O menino tirou as muletas e sentou-se no chão. Pedi que todas as outras crianças se deitassem. Comecei a atividade assim, naquele plano baixo. E fomos brincando a aula toda. Transitava com eles do simbolismo aos jogos: éramos tubarões, isso e mais aquilo. Havia até jogo de pegar e de fugir: tudo ali, sem que ninguém levantasse e corresse. E o menino brincava à vontade.

Ninguém percebeu, ou pelo menos não comentou, que a aula foi feita para o menino que não podia andar. E quando terminamos ele me abraçou com força. Éramos cúmplices dali para a frente.

E foi um semestre inteirinho assim: brincando com todas as crianças no chão. Sem explicações, sem conversas outras. Ninguém se queixando. E as “aventuras perigosas”, como as crianças do Balão Vermelho chamavam minhas aulas, continuavam. Éramos tubarões e outros peixes. Todo dia o menino me abraçava no final de cada aula.

Foi assim.