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Quando brincar é lembrança que dói

Quadrinhos de Luís Felipe Garrocho: Bufas Danadas
Quadrinhos de Luís Felipe Garrocho: Bufas Danadas

Essas tirinhas me tocam duas vezes. Uma, pela história e pela arte. É feita diretamente no computador. Tem essa linha espontânea – quer dizer, não muito controlada – pela tecnologia, posso dizer, rudimentar mesmo. Coisas de quem curtiu o momento de desenhar no Paint – um programa de poucos recursos. E o resultado é essa coisa linda, que explora as próprias limitações do meio. Que se tornam suas possibilidades, seu plano de invenção. E o modo como cria suas histórias: um jeito de produzir anticlímax – como o Felipe me disse um dia. Aqui, o anticlímax é um retorno do primeiro quadrinho, mas que volta diferente. A outra coisa que me toca, eu deixo sugerida, nas linhas que se seguem.

Depois de tudo, esse é também um anticlímax no sentido de quebrar as imagens tão previamente construídas sobre o brincar. Uma idealização, muitas vezes. Aqui, o brincar também tem sua dor. Aliás, não poderia deixar de ser isso. O brincar, intercalado entre dois quadros: o de ficar ali, no sofá, diante da TV e o divórcio dos pais. Interessante como as imagens sequenciais abrem sentidos que não se fecham. E eu tenho cá minhas leituras: pela criança que fui, e por me sentir parte dessa história de Felipe. Se eu vi um menino brincar e construí algo disso, agora tudo se desfaz e refaz sob outros signos, outras luzes.