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A criança e o movimento

Imagem: Traces – por Micagoto

Novamente pude observar crianças brincando sozinhas, isto é, sem direcionamentos por parte de adultos. Estava no Centro de Cultura do Banco do Brasil de Belo Horizonte, fazendo uma refeição leve no início da noite, sentado em um dos bancos dispostos no amplo pátio interno do prédio histórico. Nele, duas meninas por volta de quatro a cinco anos, brincavam. Provavelmente pai e/ou mãe estavam ali, numa das mesas externas do café.

O que essa breve observação me trouxe?  Ela me inseriu mais uma vez no motivo recorrente de minha caminhada nas artes da cena: a criança como inspiração – e não o contrário, querer ensinar teatro e/ou dança para crianças.  Não que uma prática pedagógica não possa ocorrer nesse sentido, é que ela teria outras bases. 

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Teatro performativo com crianças

children in wal

Outro dia pude vivenciar uma experiência de teatro performativo com crianças.  O que vem a ser este tipo de criação cênica e corporal? Antes de tudo, trata-se de um plano contaminado pela Arte da Performance. E neste caso deparamo-nos, ainda, com as inúmeras  tentativas de classificação. Porém, mais intenso e expressivo é pensar por devir,   limiares e transformações… Isso não nos impede, evidentemente, de buscar definições. Não por contornos num sistema de encaixe, mas por vizinhanças e variações contínuas. Ou seja, fazendo-se em movimento. 

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A criança e as potências do movimento

A criança vive fazendo mapas: incide os afetos nos trajetos e vice-versa (Deleuze). Daí o movimento como operador de sentido – de uma lógica da sensação. Ocorre que na criança o movimento prolifera tanto que os adultos não conseguem valorizá-lo, até porque já estão por demais entediados. Uma outra economia da libido, portanto, é o que implica o movimento livre e exploratório da criança.

Como o movimento exploratório e sensível é da ordem do brincar, não sendo economicamente produtivo, ele não tem utilidade. E no entanto, todas as forças germinativas estão ali, em agitação molecular. E sobre as potências da vida e do movimento Bergson tem o que dizer:

“Parece-me (…) verossímil que a consciência se entorpece quando não há mais movimento expontâneo e se exalta quando a vida se apóia na atividade livre.” Bergson, H. – Conferência proferida na Universidade de Birmingham, em 29 de maio de 1911

Citado por Marcos Lyra em Bergson: a consciência e a vida (publicado em O estrangeiro.net)

Pipas, samurais-meninos e movimento

Portinari, Pipas, 1941

Dois meninos, de pés no chão, corriam de manhã, pipas às costas. Tempos que eu não via tal cena. Eram samurais pequenos subindo rua de asfalto, aos gritos, tentando salvar ou buscar outra pipa. Um vento de Brasil antigo passou como um filme gasto.

Vi a cultura do brincar e sua fabricação de mundos. Não dá para acreditar que existem meninos brincando de pipa, ainda.

Era uma guerra de ventos e de artefatos empinados contra.

Longe, a nostalgia. O que eu trago é o olhar sobre o menino e a menina e os mundos por eles inventados: um arsenal de coisas, fabulações e outras criações. Numa tarde, por exemplo, os adultos se divertiam com seus copos e suas comilanças, o que é natural quando a libido fica parada em certas zonas do corpo. Mas os meninos cortaram repentinamente os espaços, riscando trajetos. Vi os desenhos e pensei: uma arte de movimento e velocidades. De pura intensidade.

Guardei essas poesias. Não são imagens que cobrem liricamente mundo pré-existente. São mapas amassados nos bolsos e abertos para serem percorridos e mil vezes rabiscados. Os meninos inventam, a cada momento, o homem.